Assíncrono vs Síncrono no Contexto da Educação Superior Pós-Pandemia

Prof. Dr. Danilo Nogueira Prata

Decanato de Gradução/UnB

Currículo Lattes


 

    No documento do Comitê de Coordenação das Ações de Recuperação (CCAR), intitulado Plano Geral para a Retomada das Atividades Acadêmicas (2020, pg. 15), descrevem-se algumas possibilidades de previsão de atividades não presenciais, síncrona e assíncrona, principalmente, para as disciplinas de exercícios domiciliares. Então, compreender a diferença entre o uso de atividades assíncronas ou síncronas torna-se essencial para planejar o retorno as atividades.

As Interfaces das Atividades Assíncronas e Síncronas

   Para a retomada das atividades acadêmicas na Etapa 0 (ver o Plano de Retomada da CCAR), é necessário refletir sobre as metodologias que podem ser usadas no planejamento do ensino não presencial que envolvem os contextos de atividades síncronas ou assíncronas. Os objetivos do ensino, as estratégias pedagógicas, o tipo de disciplina (Prática; Teórica; Teórico-Prática) e os recursos tecnológicos que os estudantes dispõem deverão ser considerados na escolha da interface do estudante com o ambiente virtual de aprendizagem (AVA).

   Por atividades síncronas compreende-se aquelas que dispõem de um espaço-tempo comum, previamente estabelecido, entre estudante-professor para sua realização, momento esse em que estudantes e professores precisam estar presentes, ao mesmo tempo, na plataforma escolhida para a realização.

   É importante ressaltar que as atividades síncronas podem ser realizadas de forma escrita ou oral, a depender da estratégia e desenho da atividade planejada.

  Já por atividades assíncronas compreende-se aquelas que não dispõem de um tempo comum para serem realizadas pelos estudantes. Nesse sentido, o estudante pode realizar sua intervenção de resposta participando a qualquer momento (em um período estipulado previamente ou não), sem, necessariamente, estar de forma simultânea presente com outros colegas ou com o professor no ambiente escolhido para interação.

  • São exemplos dessas atividades: os fóruns, e-mail, blog, diário, wiki, glossário de terminologias da área (todas estas estão no Moodle), mas podemos citar, também, os e-mails, grupos do Google Drive, entre outros. A ferramenta escolhida nessa ação indicará os meios de produção e de interação dos agentes da ação pedagógica e podem ocorrer por meio de linguagens escritas ou audiovisuais, lista de exercícios, produção de vídeos, imagens, áudios, ou outras.

   Em ambos os casos, a interação professor-estudante e estudante-estudante são fundamentais no processo de aprendizagem e para a permanência do estudante com a conclusão da disciplina. Nesse sentido, a assincronicidade é uma forma de evitar a exclusão ou a desistência de estudantes, ao oferecer ao estudante a condição de se conectar no seu próprio tempo, ou seja, uma conectividade própria. Ademais, o planejamento de atividades assíncronas favorece os estudantes que não possuem internet banda larga e dedicada, uma vez que eles podem acessar a atividade a posteriori, além de o tempo de resposta ser uma questão importante, isto é, o estudante pode ter tempo de retomar a leitura do texto básico, de modo a consultá-lo, pode reler um fórum e buscar um local com conexão para subir a tarefa.

Desafios para o Planejamento: Atividades Assíncrona e/ou Síncronas

   No período de isolamento social, é preciso considerar não apenas o acesso dos computadores de mesa ou notebooks, por parte dos estudantes, mas o que os estudantes já têm em suas mãos, como os celulares smartphones.  Nesse sentido, o Moodle versão 3.6 apresenta possibilidades de interatividade pelo celular, mas o desenho de atividades para a aprendizagem móvel necessita de outros domínios pelo professor.   

   Uma questão importante é a transposição didática do ensino presencial para o ensino online. Não se trata de uma transposição didática plena do planejamento do ensino presencial para o planejamento do ensino não presencial, pois é preciso compreender que o arranjo espaço-tempo integrador das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação traz outros elementos ao processo de ensino aprendizagem.

   Planejar as aulas para o ensino não presencial, então, traz outras reflexões acerca das questões postas pela CCAR. Há alternativas pedagógicas não presenciais compatíveis com a fase da pandemia em curso? Quais disciplinas são possíveis de serem ofertadas de maneira não presencial?

   Outras questões também se impõem: como organizar o conjunto de disciplinas de um curso, sem sobrecarregar o estudante com horas no computador ou na tela do notebook?

   Tomemos como exemplo a situação de um estudante de graduação que cursa simultaneamente 5 ou 6 disciplinas por semestre. Se todos os professores oferecerem suas disciplinas de modo não presencial, e, se se mantiver a organização semestral de 17 semanas, corre-se o risco de excluir ou perder muitos estudantes no caminho. Pode-se, à vista disso, propor um desenho diferenciado, flexibilizado, do planejamento da disciplina, ou, se mantiver o semestre de 17 semanas, sistematizar a oferta em grupos de disciplinas, por periodicidade mensal ou bimestral, por exemplo, ofertando um grupo de disciplinas por dois meses e outro grupo nos meses subsequentes. Outra ideia interessante é propor projetos e temas problematizadores que pudessem ser organizados por núcleos de disciplinas, integrando-as em um único ambiente.

   Nossas experiências do passado com a educação, por si só, não auxiliarão no momento atual se não observarmos as condições concretas. Tudo que fizermos em termos de nossas atividades de ensino deve contemplar o contexto atual e visar a uma leitura das situações diárias que demandarão atenção, novas estratégias e rearranjos do/no nosso fazer pedagógico, além de se ter em vista os casos que podem ocorrer com os estudantes e docentes envolvem a área de saúde, a área econômica, social, cultural etc.

Retornando ao Ponto de Partida

   Ampliando a discussão sobre o uso de atividades assíncronas ou síncronas como recursos para o desenvolvimento dos estudantes, pudemos observar que a escolha de uma ou outra modalidade dependerá dos objetivos do ensino, das estratégias pedagógicas e dos recursos que os estudantes dispõem. Portanto, não existe uma opção melhor que a outra, ambas, síncronas e assíncronas, dependem de fatores que não estão no controle do professor. O ideal é conhecer as tecnologias que os estudantes têm em suas mãos, se celulares, se computadores e o tipo de internet. Isso, em suma, ajudaria o docente a tomar a melhor decisão.