Profa. Dra. Maristela Rossato

Instituto de Psicologia - Departamento de Psicologia Escolar e Desenvolvimento - UnB

Currículo Lattes

 

  A experiência que estamos vivendo, nestes tempos de pandemia, é sem precedentes para boa parte das pessoas que estão em nosso convívio social. O fato é que, para a maioria da população, essa experiência nunca vivida gera sentimentos com ineditudes, por vezes, desconcertantes, as quais nos desafiam a desenvolver novos recursos para a nossa sobrevivência.

Tensionamentos Sociais e Individuais

  Os tensionamentos gerados pela pandemia têm sido representados de múltiplas formas. Buscamos o exemplo do poema de Catherine M. O’Meara, que recentemente tomou as redes sociais. A autora retrata processos de cura das pessoas e da Terra e, também, a emergência de novos modos de viver. Entretanto, a forma romantizada de conceber essa experiência, que até pode ser a realidade de algumas pessoas, deixa de fora a realidade que está sendo vivida pela grande maioria das pessoas, de modo particular no Brasil. Não devemos tomar nossa experiência individual como realidade universal. O modo como individualmente e socialmente estamos vivendo essa pandemia se constitui muito singularmente em cada um de nós e vai se transformando com o passar dos dias.

  Tão grande quanto os desafios que já estamos enfrentando serão os que teremos que enfrentar ao longo do retorno às atividades. A emergência de novas formas de relação e de reorganização institucional e acadêmica se constituirá como desafiadora para o nosso cotidiano e para o cotidiano dos estudantes. Além disso, elas poderão trazer novas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento.

  Diante desse cenário, que pode ser muito desigual, tanto para os estudantes quanto para os professores, a necessidade de flexibilização das ações e interações pedagógicas não é apenas fundamental, mas é uma forma de alimentarmos a esperança em nossas lutas pela qualidade das dinâmicas da vida.

Flexibilização da Organização do Processo de Ensino e Aprendizagem

  No planejamento do ensino, recomendamos alguns cuidados:

  • Equilíbrio entre o volume e a natureza das atividades e o tempo necessário para realizá-las, sempre considerando as condições desiguais que podem existir para realização dessas;
  • Oferta de múltiplas atividades em torno do mesmo conteúdo para que o estudante possa optar pela forma que melhor se adequa à sua realidade naquele momento;
  • Fomento de redes de apoio entre os estudantes na constituição de comunidades de aprendizagem, para que todos se fortaleçam no compartilhamento de suas dificuldades e de soluções inovadoras;
  • Abertura de espaços individuais, ou coletivos, para que os estudantes possam expressar seus medos, expectativas e ansiedades, acolhendo empaticamente o outro e disponibilizando canais de atendimento psicológico, se necessário;
  • Espaços dialógicos de compartilhamento das dificuldades e de soluções inovadoras com colegas professores, afinal, todos estamos sendo desafiados e, amparados, temos mais força para seguir adiante.

  Flexibilizar as ações e interações pedagógicas é uma forma de acolhermos as nossas necessidades e as necessidades do outro. Além disso, é uma forma de reconhecermos que podemos seguir por caminhos diferentes sem que nos percamos em nossos objetivos, é uma forma de gerarmos condições diferentes para quem tem necessidades diferentes, é uma forma de alimentarmos a esperança que sempre moveu e move a humanidade. Nós, professores, também temos nossos medos, expectativas e ansiedades e, também, podemos precisar de atendimento psicológico.